“#ForaCopasa”, e depois?




Recentemente em Pouso Alegre entrou em evidência um jargão que sempre circulou os meios políticos locais: o fora COPASA.

Para aqueles que se preocupam com o planejamento, com os serviços públicos adequados, principalmente com tarifas justas, ou seja, com um amanhã melhor, a pergunta que se faz depois do “Fora COPASA” é: e depois?

Pensar em modelos de prestação dos serviços de água e esgoto e se seria o melhor caminho por concessão ou prestação direta requer estudos profundos.

Entretanto alguns elementos podem contribuir para que o início do debate não seja a partir de decisão de que (manter) a privatização é a única solução (como tem sugerido as falas consequenciais do aspirante do Fora COPASA).

Vamos a esses elementos.

Recentemente o Instituto Trata Brasil publicou Ranking do Saneamento 2019 (http://tratabrasil.com.br/estudos/estudos-itb/itb/ranking-do-saneamento-2019).

Basicamente a compilação dos dados pelo estudo aponta as melhores prestadoras tendo por vetor (1) modicidade tarifária (tarifa menor para o usuário) e (2) níveis de investimento (aliado a perda de eficiência do serviço).

Analisando o Ranking, há constatações gerais, como: empresas puramente privadas (com capital sem qualquer participação do público) somente aparecem a partir da 10ª posição, e das 100 posições desse ranking representam um universo muito restrito. Isso demonstra que as concessões para empresas de capital exclusivamente privado não alcançaram níveis ainda satisfatórios de excelência que atendam a modicidade tarifária com níveis de investimento compatíveis. A prefeitura que planeja deve, então, levar em consideração essa variável de que conceder para empresa com capital exclusivo privado pode não representar melhoras no serviço.

Nesse ranking é ainda claro que a maioria das prestadoras são compostas pelas sociedades de economia mista, em que parte do capital é público e outra parte privada, normalmente com 51% do capital do poder público, ou, quando não, com ações golden shares. Isso demonstra que esse arranjo é o que na média do ranking ainda apresenta melhores resultados.

Mas pensando ainda no “Fora COPASA e depois?”, façamos um recorte mais específico sobre este ranking.

O 1º colocado é o município de Franca/SP, com prestador sociedade de economia mista, SABESP, cujo capital 50,3% é do poder público e o resto do capital distribuído em dois fundos privados de investimentos (BM&Fbovespa, 32,8% e NYSE, 16,9%). O 3º colocado é o município de Uberlândia/MG, com prestador totalmente público, DMAE, estruturado em autarquia.

Agora, nesse recorte, analisemos os dois vetores acima mencionados: modicidade tarifária e níveis de investimento.

No ranking há a coluna “Investimento 5 anos (Milhões R$)”, em que Franca aparece com 319,23 e Uberlândia, com 300,86. Ou seja, níveis de investimento muito parecidos.

Há igualmente a coluna “Tarifa média (R$/m³)”, em que Franca aparece com tarifa média de 2,73; e Uberlândia, 1,69. Uma diferença considerável. Hipoteticamente, em um multiplicador por 100, um usuário em Franca pagaria R$ 273,00 (duzentos e setenta e três reais) ao passo que em Uberlândia, R$ 169,00 (cento e sessenta e nove reais); diferença de R$ 104,00 (cento e quatro reais).

Embora com níveis de investimento parecidos, a modicidade tarifária ainda está com o município de Uberlândia.

Algumas variáveis contribuem para isso: o modelo de prestação dos serviços e o perfil da cidade.

Quanto ao modelo, em Franca, mesmo sendo entidade com participação de capital público, havendo capital privado entra o custo na concessão da lucratividade da atividade para os 49% dos acionistas. A lucratividade é componente final do custo da tarifa. Sem a lucratividade numa operação do tipo autarquia, como em Uberlândia, faz com que quando haja superávit financeiro esse valor não seja convertido em lucros e sim em reinvestimentos no serviço ou abatimento tarifário.

Já o perfil da cidade envolve análises como a geografia da localidade, história de desenvolvimento urbano, total da população com e sem os serviços, etc. Por exemplo, em Franca houveram, no período, 3.101 ligações na rede de serviços de água, enquanto em Uberlândia, 7.983, demonstrando que ou ainda o município está com população crescente com ampliação das edificações ou ainda tem um curso histórico baixo de universalização do serviço.

Enfim, lançamos reflexões e outras perspectivas sobre a questão, para que, em momentos de euforia, não se tome decisão por jargões muito dissipados mas pouco desenvolvidos em profundidade, muito das vezes infelizmente com o intuito mesmo de iludir para beneficiar poucos.

Não parece haver má-fé do governo atual em buscar melhores soluções para os serviços de água e esgoto. Assim, na busca do depois do Fora COPASA, pode começar pela consulta com quem faz de forma excelente em modalidade outra da de Pouso Alegre e Franca, como a citada cidade de Uberlândia, ainda mais sendo um município mineiro.

Veja diretamente o PDF do Ranking em:

Foto fundo capa: www.g1.globo.com

por Fulvio Machado Faria

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